Dizer-vos a minha idade, o que faço, hobbies, profissão? Não, não é sobre isso que é sobre mim. Talvez que neste momento me sinta uma recordação. Que queira andar para trás e apanhar aquele momento em que comecei a afastar-me de mim para cumprir os requisitos que a sociedade, a família e nós também sem o saber, nos impusemos. Qual é o tempo máximo que conseguimos recuar e ver-nos pequeninos, ainda intocados e muito verdadeiros na nossa existência? É nesse lugar que somos! Nesse sentido, tenho 5 anos, estou sempre no quintal e no jardim dos meus avós a ver tudo, mesmo tudo: as folhas das couves, a cor das flores, o percurso dos insectos que pode demorar horas mas que nem dou por ela, o cheiro do estrume, os carreirinhos entre as batatas, o contraste dos escaravelhos nas folhas delas. Tudo! Talvez por isso hoje para mim, uma das poucas Verdades que não tenho medo que algum dia me venha a mentir ou desiludir, encontro-a nas sementes. A Verdade é uma semente! Hoje semear a natureza que elas já carregam naquele grãozinho é o que me torna feliz e me ensina o que nunca consegui aprender em mais lado nenhum. Não há lá coisa mais bonita de se fazer? E sim quero despedir-me de um emprego mentiroso na função pública, mas disso trata a página do Dia Zero.
Quero trabalhar com alegria. Quero proporcionar às pessoas, viagens doces e especiais, através do som. Cuidar, embalar, criar um espaço protegido do barulho lá de fora, da vida que nos magoa, do stress que nos adoece.
A vibração e o som são pétalas que embalam e curam.
A massagem/terapia de som é muito mágica e especial, e às taças da bacia, do coração, da cabeça, universal e zen, junto, nessa viagem interior, o gongo, o zaphir, o tambor oceânico e os diapasões que são “dedos” incríveis a massajar e a harmonizar as nossas ondas cerebrais.
Quero deixar um emprego que me cria ansiedade e assumir: – Eu sou massagista/terapeuta de som!
Numa era tão desafiante para o nosso equilíbrio emocional, a massagem de som vai assumir um papel extremamente importante na nossa saúde mental, física e espiritual. Transformar o que nos faz mal, é preciso!












Para a Luísa, agora ali ausente de todas as invenções, o tempo é um ser doce e meigo que lhe ensina a desaprender todas as tretas que lhe injectaram na cabeça como se fosse uma boneca insuflável fabricada em prol de um prazer profundamente triste, desafortunadamente aceite. O tempo institucionalmente inventado faz de nós prostitutos da vida.
Passou um mês desde que fechou a porta do quarto da filha pela última vez e se afastou do último metro de alcatrão de uma cidade orgulhosa de um progresso que obriga a uma felicidade violenta e mentirosa.
Agora longe, a Luísa apercebe-se de como não nos interessa nenhuma verdade, nenhuma coerência, nenhum Agostinho da Silva, nenhum rasgo de génio altruísta, ou de um velho sábio presente nos livros que compramos e que lemos na esperança de uma salvação que apareça como nos contos de fadas, sempre pelas mãos de alguém, mas nunca a partir de nós. Interessa-nos uma felicidade consentida como uma espécie de acordo colectivo que mastiga uma alegria triste. Uma felicidade em constante diálise e dependente dos génios da indústria farmacêutica. Se a alguma tranquilidade chegamos é pela força desses engenheiros de emoções que controlam a nossa serotonina como o fazem os fiscais das finanças.
Não é possível descobrir o tesouro se estivermos fechados dentro do cofre.
E os fios de cabelo? Como é que um fio de cabelo levantado por um vento leve e tocado pelo reflexo de um raio de sol nos pode deixar em tal estado de graça, como se tivéssemos sido selecionados por um anjo para sentir o olhar dele sobre nós?
– Quem é que me vai dizer que estou errada? Com que sapiência da sua própria vida? Com que bondade despida de vaidade? Com que brilho, com que esperança e com que preguiçosas ilusões?
A roupa está enxuta e a sombra já começou a caminhada de sempre. Nada ali surgiu de novo e isso é um descanso. Como é reconfortante não haver nada de novo: uma nova fórmula, um novo modelo, uma nova rotunda, uma nova ideia, um novo projecto, uma nova pessoa, uma nova actualização!
Ali o velho é revigorante e o mesmo de sempre é a adrenalina dos dias bem passados.
Aqui, neste lugar novo sem novidade alguma, até as árvores respiram liberdade. Nas cidades começaram a asfixiar-lhes o tronco e não há lugar para uma erva do mato. Está tudo aprumado do mesmo jeito que são os fatos dos grandes ditadores.
Se as árvores pudessem fugir, as cidades ficavam sem pássaros e o silêncio da ausência deles eramos nós a tornarmo-nos em fabricantes de infelicidade.
Um dia vai aparecer um gigante que vai arrancar com a boca, o vidro do relógio onde estamos presos. Um dia, esse eterno futuro adiado ao qual voluntariamente nos entregamos em suspiros armadilhados, não vai acontecer simplesmente porque nunca é este dia.
Enquanto apanha a roupa, a Luísa percebe o quão difícil é explicar o que acontece quando abandonamos o mundo mais comercializável do mundo, o mundo que escamoteia a tragédia com festas e champanhe, que embeleza os sentimentos de plástico e afasta qualquer anjo que nos queira ver os olhos. Os anjos saber-nos-iam pousar se quiséssemos saber deles, mas nós, decididamente, escolhemos devorar os minutos e as horas como se a vida fosse uma eterna corrida olímpica.
– Como é que matas a sede do teu amigo se estás sempre a correr?
– Como é que os anjos nos podem pousar se a nossa pista desaparece a cada segundo que passa?
Agora que a Luísa já sabe que o tempo é uma mentira, talvez possa voltar a abraçar a Clarinha de um jeito que só os anjos invisíveis o sabem fazer.
De um livro que ando a escrever há demasiado tempo
Esta página mantém-se em branco até ao dia em que vocês, através do crowdfunding, me permitam chegar a esse Dia que Vos peço agora. Aqui deixarei o testemunho das transformações que forem acontecendo entre o dia em que me despedi e os 20 meses seguintes, as boas, as más e também as mágicas. Junho 2020
Vejam a minha campanha de crowdfunding aqui:
Que a velha vida morra para dar lugar à nova. Esta suposta página em branco, se me ficasse pela meta que estabeleci, ficaria em branco. A verdade é que quase ninguém tem tempo para ler o meu pedido e pior lendo, a maior parte das pessoas estando viciada no velho paradigma, não rega a semente que quer brotar. Mas aprendi que mais importante do que a meta, é o caminho, pelo que as pessoas maravilhosas que leram o crowdfunding e deram a sua contribuição permitiram que hoje tenha já um gabinete de massagem de som com todos os materiais que preciso. A minha meta de me despedir dessa velha prisão que é o meu emprego na função pública, afinal vai demorar e aprendo assim a arte da paciência. Observo e avanço. Angustio e esperanceio. E até à minha libertação viverei num corpo que terá de viver duas vidas em simultâneo: a velha, que já não me serve, e a nova que começa a surgir. Grata!
Dezembro 2020
É que de repente pensei: – e se a massagem/terapia de som corre tão bem, que passe a ter um problema exactamente por isso mesmo?
Esta questão levou-me à questão que é a matriarca de todas as outras questões: – qual é a altura óptima para dar o salto? Quanto desta minha nova profissão tem de correr bem para eu perceber que está na hora?
A hora de largar a costa segura e mergulhar em águas que me levem até à minha ilha. A ilha que é o “invisível” com que nasci e que quero tratar tão bem como as pessoas tratam os corpos nos ginásios.
O risco e a segurança são um casal de bailarinos que se seduzem e se afastam ao mesmo tempo.
E eu observo esta dança enquanto me observo a observar esta dança Março 2021
Hoje, dia 1 de agosto de 2021, foi colocada, a minha casa, à venda. Quando olho as fotos dela inseridas no site da imobiliária, penso: – o que é que eu fui fazer? A minha casa é tão linda e tão especial. Tão irrepetível nos cantos todos dela que são memórias de quase 20 anos. E para onde vou? Nem sequer terreno tenho para construir a minha pequena cabana dos futuros dias de mudança.
É a este deixar acontecer, perda de controle, imprevisibilidade que dizem ser o mistério da vida? Estou lá para descobrir. Com medo mas a caminho.
Vejam aqui o link da minha casa à venda na imobiliária Briosa-Home:
VENDIDA
A Massagem/Terapia de Som segundo Peter Hess® ( Taças Tibetanas – Terapia de Som segundo Peter Hess – Taças Tibetanas para Terapia (peter-hess-academy.com.pt) ao contrário de outras massagens “oferece” comprovados benefícios na dimensão física, emocional e espiritual do ser humano. O som e a vibração têm um efeito marcante ao longo da massagem assim como nos dias a seguir a ela. Devolvem-nos uma sensação de paz e relaxamento ao mesmo tempo que harmonizam as células do corpo. Esta é uma experiência muito especial que alia a sabedoria oriental com o conhecimento científico ocidental.
Os seus benefícios são:
“Atingir rapidamente um relaxamento profundo;
Libertar problemas e preocupações;
Soltar bloqueios ao nível emocional e físico;
É uma massagem suave que harmoniza cada célula do corpo;
Cria fluxo energético;
Influencia a auto-estima e estimula o poder criativo;
Fortalece as forças da auto-cura e provoca alegria de viver;
Harmonia entre si, o corpo, o espirito e a alma.”
in Academia “Peter Hess”
A verdade é que senti necessidade de regressar ao que é simples e já lá, percebi como a simplicidade contém uma sábia complexidade mais eficaz que a mais complicada das máquinas. Som e vibração! É só imaginar o efeito que uma pedra atirada à água tem e observar as ondinhas a agitar harmoniosamente toda a massa de água. Se algo de “choco” ali havia, dissipou-se e aquietou-se de seguida. Esse é o efeito que a massagem de som tem num corpo que é constituído por quase 80% de água. São mil pétalas a abraçar todas as nossas células.
Local: Foz de Arouce – Lousã
Duração: 60 minutos
Contributo: 40 euros
“Parece que fiz uma viagem” Ricardo Nogueira
“Acordei cedinho, com este som no ouvido, que inicialmente me trouxe uma lágrima e num momento imediato me iluminou de dentro para fora, com energia e simplicidade, autenticidade e coragem, motivação e alento. Gratidão pela tua energia e pelo som e pela vibração que há tanto almejava. Estou desde ontem, sem qualquer dúvida mais leve.” Rita Costa
“Foi uma massagem de dentro para fora, como um regresso a Casa” Patrícia Lobo
“Houve uma altura em que me senti como se estivesse no tapete do Aladino a voar” Ana Albuquerque
“…estou sem dores nas costas! Estou leve, forte e flexível. Muito grata a ti! ” Manuela Neves
“Bom dia. Hoje acordei mais leve, sem aquele peso diário que sinto na cabeça” Margarida Nogueira
As minhas formadoras Carla e Ingrid Olterbach
(publicação do artigo mais antigo para o mais recente)
Em outubro de 2017 ardia mais uma floresta. Em dezembro de 2017 comprei um terreno preto que ainda cheirava a queimado. Comprei porque estava ferida e não queria escrever, ou gritar em manifestações ou assinar mais uma petição. Comprei porque queria fazer e viver essa Criação e aprender com ela. O que aprendi é que se queres que alguma coisa mude, tens de ser tu a gerar essa mudança e este pedaço de terra ferida, tornou-se a minha esperança para acreditar que quando fazemos e somos o mundo que queremos, ele acontece.
Este é um espaço que vos convido a visitar, de vez em quando, para irem acompanhando e observando como um chão ferido começa a renascer ainda mais lindo do que era antes!
Este é o Fio de Luz. Dei-lhe esse nome porque ao fim da tarde “tocaram-me” os raios de luz que percorriam a floresta queimada. Há três anos que saio do trabalho e percorro a pé o caminho até este pedaço de chão para juntos nos ajudarmos a Renascer. É muito difícil contrariar o cansaço que chega depois de um dia de trabalho. Tenho de ir a pé até ao terreno e regar tudo o que planto com regadores que mergulho no ribeirinho. Mas os laços são tão fortes com o que se planta que esteja o calor que estiver eu apareço e sinto uma alegria enorme enquanto mato a sede ao que ali cresce. Já aconteceu estar a ir embora ao escurecer, lembrar-me de alguma flor que me esqueci de regar e voltar atrás, regar e ir a correr pela floresta fora em contra relógio com o escuro do céu que me faz medo pela penumbra que se adensa em plena floresta. Isto é Amor!
Outubro 2020
Aqui, no meio de uma floresta que agora renasce plena de eucaliptos, uns plantados, outros espontâneos, crio uma nova tela viva, onde tudo o que nasce e cresce, tem lugar: plantas, árvores, bichos e arte natural. Estes pequenos pedaços da origem original (admito o pleonasmo) são agora pequenas ilhas no meio de uma floresta que foi assassinada e a qual é sentida pelos seus donos como uma fábrica que produz árvores que lhes dá dinheiro não para matar a fome mas para ficarem ainda mais ricos.
O Mário e o Fio de Luz conheceram-se há cerca de dois anos e têm criado uma relação especial. Assim como o Fio já tem muito do Mário, o contrário também é verdade. Chamo ao Mário de Passarinho e é lindo vê-lo “voar” por um sítio com feridas tão abertas porque todos temos as nossas feridas e ali percebe-se que o cuidar com paciência e Amor é a melhor Verdade de todas as verdades. O Mário fala com todas as plantas e rega-as de um jeito que consegue ouvir o som de cada gota de água a cair na terra. Quando lá não consegue ir pergunta pelo Fio como se fosse um filho. Observar o Mário no Fio é pura emoção, daquelas silenciosas que guardamos como um tesouro. E assim, mesmo que o Mário voe para outras terras, o Fio fará sempre parte dele e ele, nele, estará sempre presente. E deixo aqui o convite ao Passarinho para construir esta página, também.
Foram plantadas até agora cerca de 45 árvores. As árvores de fruto misturam-se com as árvores da floresta. E assim, já crescem, alfarrobeiras, castanheiros, no-gueiras, figueira, sabugueiro, romanzeira, pessegueiro, amei- xoeira, cedro, cerejeiras, abacateiros, limoeiro, laranjeira, gingko-biloba, freixo, azinheira, medronheiro,sobreiro, nesperei- ra, amendoeira, pinheiros e diospireiro. E entretanto, juntam-se a elas os carvalhos que nascem de bolotas que resistiram ao fogo e com que força! Dezembro 2020
Talvez que num meio tornado severo pela força das circunstâncias, as paisagens mais frágeis e delicadas nos façam lembrar a nossa condição humana. No Fio, as papoilas brancas contrastaram com as feridas da terra e vê-las ali, mesmo que por um curto período de tempo, amacia e devolve alguma ternura à dureza da paisagem.
E enquanto tenho saudades das “velhas” pradarias cheias de trigo, papoilas, trevo, girassóis, centáureas, camomilas…são lançadas com toda a boa esperança estas sementes no chão do Fio de Luz, porque:
Aguarda-se passivamente por uma mudança a acontecer num sempre futuro adiado. Espera-se por um certo milagre que erradamente interpretámos como literalmente sendo a ressurreição de um morto, a multiplicação de pães, a magia do pão que se transformou em rosas, o surdo que passou a ouvir ao bater das palmas das mãos, o santo que há-de descer dos céus à boleia de uma nuvem! Não percebemos, ainda, que tudo é milagre: um coração dar vida, uma lagarta se transformar em borboleta, a incrível biodiversidade escondida debaixo da terra que há-de emergir nas mais incríveis telas vivas da melhor arte., a água que tira a sede, o oxigénio a fazer-nos respirar, as abelhas que tornaram possível a existência do leopardo que tanto admiramos! Acredito hoje, e depois de observar e de até ter participado na incrível quantidade de causas, pelas quais as pessoas hoje lutam, que lançar sementes à terra é uma arma nuclear ao contrário : é uma explosão de vida, a salvação da única Casa que temos e que, sem perceber o milagre em si que Ela representa, todas as outras formas de luta, os gritos, as manifestações, a política, os grupos, os sub-grupos, as comissões, os planos municipais,…uau a loucura que criámos para manter a própria loucura, de nada valem, nem agora, nem nunca.
Fevereiro 2021
Bebedouro de abelhas num imenso lago onde japoneses eruditos pescam peixes, num silêncio lindo de se ouvir.
Junho 2021
“Dizer” o que sinto através da arte é das formas mais belas que encontro para comunicar. Cada instalação artística que faço é uma libertação. Uma boa libertação! Acredito muito e com força que a reflexão sobre o mundo expressa através da arte tem um poder subtilmente transformador. Ela provoca-nos a sensibilidade adormecida e desperta o nosso olhar interior para assuntos sérios que de tão repetidos, se tornaram, perigosamente, banais.
Alta Autoridade para a Verificação da Normalidade ordena internamento compulsivo a indivíduo, aparentemente alinhado, que cheirou uma flor
Já passava das 07h35 quando um humanoide, aparentemente integrado na Ordem, foi apanhado a abeirar-se de uma flor, esquecida no ordenamento público da paisagem. Este acto facínora, tem contornos particularmente perturbadores, dado que aconteceu a caminho do posto de trabalho n.º 789.234, sabendo-se que o sujeito alinhado nunca apresentou qualquer desvio, distracção ou tendência para a contemplação. O caso é ainda mais estranho, pois o sujeito é um contribuinte exemplar, pouco dado a reflexões, casado, com dois filhos menores bem encaminhados para futura integração em postos de trabalho de Controle Superior. O sujeito tem ainda um jardim com um relvado irrepreensível e o boletim de vacinas em ordem. No local, o homem apresentava um olhar estranho como se um certo assombro se tivesse apoderado dele, sendo que a situação não assumiu contornos mais graves, graças à pronta acção dos Verificadores da Normalidade que confirmam que o homem ainda conseguiu cheirar a flor. Dada a alta probabilidade de existir um elevado risco de desprogramação, o sujeito com o número de utilidade 6. 453.765, foi internado compulsivamente para verificação das suas ondas cerebrais e controle de emoções perigosas para a Ordem, assim como para prevenir uma eventual pandemia cujos sintomas de contemplação e pensamento próprio pudessem transformar os humanoides em seres descontinuados.
Sabendo-se que os objectos de contemplação têm um forte efeito desestabilizador nas pessoas, a flor foi pulverizada e incinerada, podendo, desta forma, todos os sujeitos não pensantes prosseguir nas suas fileiras diárias, confortados pela sua própria ilusão.
Pelo caminho repara nas flores amarelas e vermelhas, feridas pelo cansaço, mas ainda estoicas, de pé. A imagem cinzenta da guerra, vista numa televisão a preto e branco, aparece-lhe. A memória é um bicho em alerta, preguiçosa e distraída. Foram tantas as guerras que mataram milhões de pessoas para salvar nenhuma! O Super-Homem caminha lento e velho num carreiro ladeado de flores quebradas, enquanto relembra pela força da memória, todo o mal que esmigalhou dentro das mãos. Mas o homem é um inventor e entusiasta de novos e criativos males. Agora, as guerras matam flores e poetas e o Super-Homem está cansado. Enquanto caminha só e enfraquecido, imagina como serão as imagens a cores, de flores estilhaçadas pela queda de uma bomba ou fuziladas pelas mãos de um patriota. Quem são as pessoas que matam a beleza? Que medo lhes traz a doçura de um poeta? Mas olhem! Olhem bem para a nobreza que uma flor mantém, mesmo com uma arma apontada a si. A alma é uma semente! Shhhhh… esta, é a sinfonia de um homem só.
A felicidade é um prego no coração dos homens que se venderam ao hábito do sofrimento.
Estes homens que vestiram o arrasto dos dias com o orgulho das pessoas empreendedoras e eficientes.
Estes homens que matam flores para não correrem o risco de se distraírem.
Esses homens que respiram lucro de todos os poros e esperam que num dia sempre adiado, venham a ser ressarcidos por terem trocado pequenas e belas alegrias por um caixão almofadado feito de madeiras raras importadas de uma floresta assassinada.
Eis o dia da recompensa!.
De um livro que ando a escrever há demasiado tempo
O Tempo é um círculo, uma espécie de transição que nos leva a um regresso ao qual já não chegamos iguais.
O Tempo é o fim de todos os inícios, é a última cinza e o primeiro suspiro, que acontecem simultaneamente.
O Tempo é uma fenda na parede e é também um beijo de onde brotam seres novos.
Mas sobretudo, o Tempo é sempre uma casa velha à espera desse novo regresso.
Exposição “Entre a Ruína e a Obra” I Pescada 5
O chão da Terra pode ser agreste ou suave, conforme a natureza que o decora: pétalas, pedras, folhas, espinhos, musgo, bolotas, palha, conchas, areia, lava, espigas, cinzas, sementes, o pó que flutua e poisa.
Tudo cai e chega até nós!
O palco da Vida pode ser agreste ou suave conforme a sociedade o envolve: direitos, deveres, prazer, sofrimento, devoção, obrigação, compaixão, indiferença, amor, violência, silêncio, ruído, leis, gestos, os rostos multi emocionais de olhos fechados ou abertos.
Tudo se constrói e chega até nós!
O chão e o palco são seres vivos que nos libertam ou aprisionam.
O Mundo é quadrado e redondo e nós um pequeno bosque que ora cresce, ora se incendeia.
Exposição “Há no Bosque o combate que buscas” I Pescada 5
Lapa dos Esteios 2014
Teaser de Fernando Lucas
Próxima Instalação – work in progress
Título
Depósito legal: 466893/20 *
Sinopse
Assim como o planeta Terra se auto-regula com o movimento da sombra e da luz, o mesmo acontece com a construção humana. Há quem se inquiete com o gosto artificial dos dias e há quem se satisfaça com a toma de um comprimido que lhe suprima as necessidades, todas elas. Mas algo está a mudar. Entre a convivência passiva de uma normalidade patológica que se espalha e infiltra até ao tutano das nossas consciências e a incapacidade de adaptação a essa mesma normalidade que representa, na verdade, o lado mais luminoso da existência humana, a autoalienação da humanidade terá atingido um grau tal que, segundo Byung, experimentará o seu próprio aniquilamento como um gozo estético.
Uma flor oferece-nos 952 sementes da sua própria beleza. É, pois, assim, alarmante o sofrimento no mundo.
* Depósito legal: 466893/20 corresponde ao livro de Olga Tokarczuk e Joanna Concejo – A Alma Perdida
Foi através da fotografia que descobri a Luz e a importância das sombras.
Ambas fazem parte da vida.
Tento criar uma relação com os insectos, as ervas e até com o próprio vento. O tempo, aqui, nesta predisposta contemplação, simplesmente não existe. Com o passar do tempo sem tempo percebo que tudo, mesmo tudo, comunica. Há tanta Beleza original que fico com pena que tantos de nós a procurem de forma artificial, não se dando conta que o paraíso é já Aqui.
Disponível em horário a combinar